SILÊNCIO FALADO

terça-feira, outubro 19, 2004

Um pouco de calor...

Estive três dias abrigada em casa a observar a chuva. Ao quarto-dia, resolvi sair e enfrentá-la. Vesti o impermeável, calcei as botas ,peguei no guarda-chuva e fui à luta.
Perdi: 11 497 pingos contra uma lágrima de saudade que bastou para acordar velhos fantasmas...

Retrato Ardente

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha

Eugénio de Andrade


posted by elisa, 18:57 < | link | 2 comments |

2 Comments:

Essa lágrima foi preciosa... já rolou, já caiu, deixa que leve com ela esses fantasmas, para que possas apreciar a chuva e todos os seus pingos na sua plenitude. Beijo grande, Elisa, o poema que escolheste também é belíssimo. Carla (das papoilas)
commented by Anonymous Anónimo, 3:39 da manhã  
Fecha o chapéu de chuva, tira o capuz do impermeável e deixa que a enxurrada leve essa lágrima traidora! Com ela, leva os fantasmas todos :-) Beijinhos***
commented by Blogger AnaP, 1:21 da tarde  

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