Pergunto-me muitas vezes se a alma pode doer.
Tenho quase a certeza que é possível. De que outro modo poderia então explicar o peso que sinto no coração, o aperto no estômago, o subtil mas aterrador tremor que me percorre o corpo de vez em quando?
Quando isto acontece, sento-me e tento desligar.Sonho de olhos abertos, sonho que saio do meu corpo, que me movo por entre sonhos, ideias e pensamentos e que a vida corre desordenada por sombras e luzes. Aí, a vida vira filme e vejo-me num ecrã de cinema, com o charme intocável e as respostas sem falhas das míticas personagens do grande ecrã. É lá que me sinto bem. Os tremores cessam, desaparece o peso que sentia pairar-me sobre a cabeça. Sinto-me livre.
Por vezes quando regresso, sou novamente assaltada por medos inexplicáveis e há dias em que tenho de repetir a viagem. Sei que cada vez que parto, levo uma parte de mim para o outro lado. Acredito piamente que conseguirei transportar quem eu quero até ao meu universo. Mas por ora, preciso desse refúgio para enfrentar a rua, o olhar das pessoas. Graças a ele, flutuo pela rua esboçando um sorriso, os olhos cravados no céu, cantarolando. Quem olhar para mim pode pensar que me se sinto dona do mundo, que as minhas passadas denotam uma absurda autoconfiança. E talvez me sinta de facto dona do mundo, do meu mundo. E quando os meus olhos encontram os olhos impiedosos de quem acha que é impertinência essa forma de andar, tropeço e sorrio. Sei que é perigoso elevar-se assim esquecendo os olhos impiedosos desse mundo.
Por isso, desço à terra. De vez em quando.
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"mas apenas os mais audazes / podem ir do real ao irreal / e os seus sonhos são aves / em voo sereno e triunfal"
Fica com um beijo...