SILÊNCIO FALADO

quarta-feira, março 26, 2008

Das esperas

"Continuo à espera que o homem que um dia será o da minha vida, me encontre por acaso. Num acaso daqueles em que o Universo todo se une para nos juntar. Na bicha da bomba da gasolina, no comboio, no trânsito - seria irónico conhecermo-nos num acidente - no supermercado, num sítio qualquer. A ideia é ele ver-me e sentir alguma coisa diferente. Imagino uma espécie de choque eléctrico no estômago. Um estremecimento sem susto, um arrepio sem frio, e zás, era o amor. Ou isso, ou morte súbita, a avaliar pelos sintomas. Ele viria falar comigo e eu perceberia que era desta. No entanto, há alguns problemas que se levantam em todo este sonho romântico-hollywoodesco: ele ver-me. Ora eu não sou o tipo de rapariga para quem se olhe admirado, estonteado, maravilhado. Acho que se ficar agradado durante três segundos, já é muito bom. Comigo é preciso perder algum tempo a conversar. Dois ou três dedos de conversa e poderá nascer um certo interesse. Portanto, logo aí, a cena fica toda alterada. O segundo problema é o próprio acto de eu esperar. É esquisito, senão estúpido, mesmo, esperar por alguém que não se conhece. Para além disso, já se sabe que quando se quer as coisas bem feitas, temos de ser nós a fazê-las, o que me leva para o terceiro problema. Mesmo se ele andasse por aí, duvido que haja em mim qualquer capacidade ou sensibilidade suficiente para o reconhecer. Desconfio que ele poderia passar por mim todos os dias que eu não iria perceber.Mas os problemas não se ficam por aqui. Há mais um, o derradeiro. É que eu, racionalmente, não acredito nessa coisa da pessoa da vida. Não me parece que haja uma pessoa certa para cada um de nós. Acho que, muitas vezes, é uma questão de timming, e o meu timming é um bocado merdoso. E é por isso que para aqui ando: eu espero e não acredito."

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